Os motivos do governo Trump para incluir presidente da Colômbia e sua família em 'lista negra' dos EUA
25/10/2025
(Foto: Reprodução) Presidente da Colômbia sofre sanções do governo Trump
Na sexta-feira (24/10), os Estados Unidos colocaram o presidente colombiano Gustavo Petro, seu filho mais velho, Nicolás Petro, o ministro do Interior, Armando Benedetti, e a primeira-dama Verónica Alcocer, na lista de indivíduos supostamente associados ao narcotráfico.
O presidente venezuelano Nicolás Maduro já havia sido incluído nessa mesma relação, que é controlada pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC, na sigla em inglês) em 2017.
A decisão acontece após várias semanas de tensas discussões entre Petro e o presidente americano Donald Trump, que acusou o presidente colombiano de ser o suposto "líder do narcotráfico" na Colômbia, alegação que foi rejeitada por Petro.
O anúncio também ocorre em meio à crescente campanha militar dos EUA contra o que foi chamado de "guerra às drogas", que inclui ataques em águas internacionais contra embarcações supostamente controladas por organizações criminosas.
"O Tesouro está sancionando o presidente colombiano Gustavo Petro por seu papel no tráfico ilícito de drogas", afirmou a conta da OFAC na plataforma de mídia social X.
O governo posteriormente forneceu detalhes sobre os motivos da decisão.
"Desde que o presidente Gustavo Petro assumiu o poder, a produção de cocaína na Colômbia atingiu o nível mais alto em décadas, inundando os Estados Unidos e envenenando os americanos", afirmou o secretário do Tesouro, Scott Bessent.
"O presidente Petro permitiu que os cartéis de drogas prosperassem e se recusou a interromper essa atividade", acrescentou ele.
Petro respondeu imediatamente à medida.
"A ameaça de Bernie Moreno foi cumprida. Minha esposa, meus filhos e eu fomos incluídos na lista do OFAC", escreveu ele no X, referindo-se a um senador republicano de Ohio.
"Combater o tráfico de drogas de forma eficaz por décadas me trouxe esta medida do governo [dos EUA], de uma sociedade que tanto ajudamos para interromper o uso de cocaína", acrescentou Petro.
As críticas a Petro aumentaram desde a visita do presidente colombiano a Nova York no mês passado, onde ele compareceu à Assembleia Geral da ONU e participou de um comício pró-Palestina
Reuters via BBC
O que significa estar na 'lista Clinton'
De acordo com um comunicado do Departamento do Tesouro dos EUA, Petro entrou na lista por "ter se envolvido, ou tentado se envolver, em atividades e transações que contribuíram materialmente para, ou representaram um risco significativo para, a proliferação internacional de drogas ilícitas ou seus meios de produção".
As autoridades americanas também mencionam que Petro "se aliou ao regime narcoterrorista de Nicolás Maduro", presidente da vizinha Venezuela.
Após as eleições presidenciais de 2024, nas quais Maduro foi declarado vencedor em resultados contestados pela oposição e por organizações internacionais, o governo de Petro resistiu aos apelos da oposição e de parte da população colombiana para romper relações diplomáticas.
Hoje, Bogotá não reconhece oficialmente o governo Maduro, mas mantém laços com ele, alegando razões como segurança e estabilidade nas fronteiras.
Por causa das sanções, qualquer propriedade ou interesse de Petro e de outros sancionados nos EUA deve ser reportado ao OFAC.
"Qualquer entidade que seja propriedade, direta ou indiretamente, individual ou conjuntamente, em 50% ou mais por uma ou mais pessoas bloqueadas também está bloqueada", acrescentou o Departamento do Tesouro.
O comunicado observou que os regulamentos, em geral, também proíbem todas as transações por americanos relacionadas a qualquer propriedade das pessoas sancionadas.
A violação das sanções pode resultar em penalidades civis ou criminais para americanos e estrangeiros.
O filho de Petro, Nicolás, a esposa do presidente, Verónica Alcocer, e Benedetti, o Ministro do Interior, foram condenados por "terem fornecido, ou tentado fornecer, apoio financeiro, material, tecnológico ou bens e serviços em apoio a Gustavo Petro".
Os regulamentos do OFAC geralmente proíbem todas as transações realizadas por cidadãos americanos ou dentro dos Estados Unidos que envolvam ativos ou interesses dos indivíduos na lista.
Esta lista de "Nacionais Especialmente Designados" inclui indivíduos, grupos e entidades sancionados pelo governo dos EUA.
Ela foi criada durante o governo Bill Clinton (1993-2001) para monitorar e aplicar sanções financeiras e comerciais dos EUA — daí o nome pela qual ficou conhecida, "lista Clinton".
No entanto, essa relação antigamente incluía apenas suspeitos de tráfico de drogas, enquanto a lista atual é muito mais ampla.
Tanto Petro quanto seu ministro do Interior, Armando Benedetti, criticaram as ações recentes de Trump contra a Colômbia nos últimos dias
Bloomberg via Getty Images/BBC
'Aliança com regime narcoterrorista de Nicolás Maduro'
O Departamento do Tesouro argumentou que a cocaína da Colômbia é frequentemente comprada por cartéis mexicanos, que a contrabandeiam para os Estados Unidos.
Trata-se de uma substância controlada que representa uma ameaça significativa aos Estados Unidos, "apesar da recente comparação leviana de Gustavo Petro entre seu uso e o uísque", observou o comunicado.
De acordo com o governo americano, Petro concedeu benefícios a "organizações narcoterroristas" sob os auspícios de seu plano de "paz total", entre outras políticas, o que gerou níveis recordes de produção de cocaína.
Em 15 de setembro, o governo americano determinou que a Colômbia é um importante país de trânsito ou produção de drogas ilícitas e está "falhando manifestamente" em cumprir suas responsabilidades no controle de drogas.
Os EUA lançaram ataques letais contra pelo menos dez embarcações no Caribe, sob a alegação que elas transportavam drogas
Departamento de Defesa dos Estados Unidos
Assim, pela primeira vez em três décadas, os EUA retiraram o país sul-americano da lista de nações que combatem o narcotráfico.
"Os Estados Unidos nos 'descredenciam' após dezenas de mortes de policiais, soldados e pessoas comuns que tentavam impedir que a cocaína chegasse até eles", afirmou Gustavo Petro durante uma reunião de gabinete em resposta à medida.
E o ministro do Interior, Armando Benedetti, declarou à mídia local que a Colômbia suspenderia as compras de armas dos Estados Unidos.
Ao justificar a decisão de sexta-feira (24/10), o governo Trump argumentou que Petro demonstrou "comportamento errático" e citou como exemplos o compartilhamento, pelo presidente colombiano, de informações confidenciais obtidas por meio de canais de comunicação seguros contra lavagem de dinheiro em 2024, que segundo os EUA ameaçavam a integridade do sistema financeiro internacional.
"Ele também se aliou ao regime narcoterrorista de Nicolás Maduro Moros e ao Cartel do Los Soles", detalhou o comunicado do Departamento de Tesouro americano.
O cartel mencionado é reconhecido como um dos principais grupos criminosos da Venezuela.
Trump chamou Petro de 'lunático' e o acusou de envolvimento com tráfico de drogas
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Escalada do conflito
As tensões entre os dois governos têm aumentado constantemente nos últimos dias.
Trump anunciou que suspenderia "subsídios e pagamentos" à Colômbia e alertou o governo de Petro que, se não pusesse fim ao que considera "campos de extermínio" causados pela produção de drogas, "os EUA os fechariam para ele", e "não de uma forma gentil".
O contra-ataque de Petro foi rápido.
"Trump está enganado por seus conselheiros e assessores [...] Recomendo que Trump leia a Colômbia com atenção e determine de que lado estão os narcotraficantes e de que lado estão os democratas", respondeu ele no X.
Em meio às duras declarações, o Ministério das Relações Exteriores da Colômbia considerou que a mensagem de Trump "contém uma ameaça direta à soberania nacional ao propor uma intervenção ilegal em território colombiano".
A disputa ocorre após Petro acusar Washington de violar a soberania de Bogotá e supostamente matar um pescador colombiano em meio à campanha militar dos EUA contra supostos narcotraficantes no Caribe.
Com o aumento das tensões, os EUA prenderam um colombiano e um equatoriano que sobreviveram a um outro ataque na semana passada a um barco perto da costa sul-americana.
O confronto entre Petro e Trump é o mais recente de uma série de tensões que surgiram desde que o americano, que é ideologicamente oposto ao colombiano, retornou à presidência.
Gustavo Petro e Donald Trump trocaram uma série acusações nas últimas semanas
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