Premiê francês sobrevive a votos de desconfiança da direita e esquerda, e governo Macron ganha fôlego
16/10/2025
(Foto: Reprodução) Assembleia francesa vota moções de censura ao primeiro-ministro, Sébastien Lecornu
Em crise política sem precedentes, o governo do presidente francês, Emmanuel Macron, ganhou novo fôlego nesta quinta-feira (16). Seu primeiro-ministro, Sébastien Lecornu, superou as duas moções de censura às quais foi submetido nesta manhã no Parlamento francês tanto pela esquerda quanto pela direita.
👉 A moção de censura, ou voto de desconfiança é um mecanismo de regimes parlamentares que permite aos deputados votar, ao longo do mandato de um primeiro-ministro, se ele segue adequado a permanecer no cargo.
Lecornu chegou a anunciar sua renúncia ao cargo, mas Macron pediu que ele permanecesse no cargo, em meio a uma crise que já derrubou outros três premiês do governo em um ano. Nesta terça, conseguiu sobreviver no posto graças a uma proposta para suspender uma das reformas que o governo francês pretende fazer (leia mais abaixo).
O premiê superou as votações, mas ficou muito perto da queda. Veja abaixo como foram as votações:
A moção de censura apresentada pelo partido A França Insubmissa (LFI, esquerda radical) ficou a apenas 18 votos da aprovação. Sete socialistas romperam o acordo do partido e votaram pela queda do governo;
Já a segunda moção, apresentada pela líder de extrema direita Marine Le Pen, ficou distante de alcançar a maioria de 289 votos necessários, obtendo apenas 144 devido à rejeição da esquerda em apoiar o texto.
Suspensão de reforma
O primeiro-ministro francês, Sebastien Lecornu, após sobreviver a dois votos de desconfiança no Parlamento francês, em 16 de outubro de 2025.
Benoit Tessier/ Reuters
Lecornu conseguiu o apoio da maioria dos parlamentares porque defendeu na terça-feira (14) a suspensão da impopular reforma da Previdência de Emmanuel Macron, para que a oposição socialista, que exigia a medida, não apoiasse a moção de censura.
👉 Na França , presidente e primeiro-ministro governam em conjunto, em um modelo incomum em regimes parlamentaristas, nos quais o premiê é o responsável por gerir o governo. Mas Macron, o presidente, acaba tendo mais voz no caso francês.
"A suspensão anunciada" da reforma da Previdência até 2028 "não passa de um engano, uma armadilha, um subterfúgio", afirmou antes da votação a deputada do LFI Aurélie Trouvé para pressionar os ex-aliados socialistas.
O Partido Socialista (centro-esquerda) aceitou a proposta do primeiro-ministro de centro-direita para debater e conseguiu que ele cedesse na impopular reforma da Previdência, apesar de Macron sempre ter rejeitado a ideia de suspender ou revogar a medida.
A votação desta quinta ocorreu poucos dias após propor a suspensão de uma reforma crucial de Macron para não agravar ainda mais a crise política.
Apesar do anúncio, a incerteza paira sobre como acontecerá a suspensão. Lecornu propôs que seja incluída como uma emenda ao seu projeto de orçamento para 2026, que o Parlamento deve votar até o final do ano.
O orçamento proposto prevê um esforço fiscal de 30 bilhões de euros (34,97 bilhões de dólares, 190 bilhões de reais). Em grande parte, inclui uma redução de gastos para conter uma dívida pública que chega a 3,4 trilhões de euros (115,6% do PIB).
A vinculação apresenta um dilema para os socialistas: aprovar um orçamento com cortes sociais em troca da suspensão da reforma previdenciária ou rejeitá-lo e arriscar-se a perder a "primeira vitória", como celebraram a esquerda e os sindicatos.
O líder socialista Olivier Faure advertiu nesta quinta-feira que "se o governo não cumprir suas promessas", em particular no que diz respeito "à suspensão da reforma da Previdência", o partido aprovará a moção de censura "rapidamente".
O primeiro-ministro francês Sébastien Lecornu, que apresentou sua renúncia ao presidente francês esta manhã, faz uma declaração no Hotel Matignon em Paris, em 6 de outubro de 2025.
Reuters/Stephane Mahe/Pool