Enchentes no Texas: equipes buscam ao menos 27 meninas desaparecidas em acampamento; 29 pessoas morreram
05/07/2025
(Foto: Reprodução) Região do Rio Guadalupe, no estado norte-americano, foi tomada por uma forte cheia nesta sexta-feira (4). Equipes fazem buscas com o apoio de helicópteros. Enchentes deixam dezenas de mortos e desaparecidos no Texas
Vinte e nove pessoas morreram em decorrência das enchentes provocadas por tempestades no estado do Texas, nos Estados Unidos, desde sexta-feira (4), segundo autoridades locais neste sábado (5).
Até a última atualização desta reportagem, equipes de resgate ainda realizavam buscas por desaparecidos, incluindo um grupo de 27 meninas que participavam de um acampamento de verão.
Elas estavam no Camp Mystic, um acampamento cristão localizado às margens do Rio Guadalupe, que foi tomado por uma forte enchente em poucas horas na sexta. Vídeos publicados nas redes sociais mostram casas e árvores sendo arrastadas pela cheia repentina.
"O acampamento foi completamente destruído. Foi muito assustador", disse Elinor Lester, de 13 anos, que participava do Camp Mystic.
A maioria das mortes, 27, ocorreu no condado de Kerr, na região central do Texas. As outras duas foram registradas no condado vizinho de Travis, segundo o serviço de emergência local.
Segundo o gabinete do xerife do condado de Kerr, 18 das vítimas eram adultas e nove, crianças. De acordo com o jornal "The Washington Post", três dessas crianças eram meninas que estavam no acampamento, conforme relatos de familiares.
Policial do Texas diante de pilha de escombros na região de Hunt, no Texas, após enchentes no rio Guadalupe por conta de fortes chuvas, em 5 de julho de 2025.
Julio Cortez/ AP
Mais de 800 pessoas já foram evacuadas. As buscas mobilizam 500 profissionais, 14 helicópteros e 12 drones.
Familiares publicaram mensagens desesperadas nas redes sociais em busca de informações sobre o paradeiro das meninas. Segundo o vice-governador do Texas, Dan Patrick, mais de 750 crianças participavam do acampamento.
A operação de resgate, que conta com helicópteros, drones e equipes de emergência, continuará ao longo do fim de semana. "Peço ao povo do Texas que faça orações. Daquelas de se ajoelhar mesmo, para que a gente encontre essas meninas", disse o vice-governador.
Família caminha sobre árvore caída após enchente que deixou mortos no Texas, em 5 de julho de 2025.
Julio Cortez/ AP
Policial faz buscas com cachorro (ao fundo) por desaparecidos diante de carro revirado por causa das enchentes após chuvas no Texas, em 5 de julho de 2025.
Julio Cortez/ AP
As autoridades estaduais haviam alertado sobre o risco de clima severo no dia anterior às chuvas. O Serviço Nacional de Meteorologia previa entre 70 e 150 milímetros de precipitação a partir de quinta-feira (3), mas o volume registrado chegou a 250 milímetros.
Um medidor do nível do Rio Guadalupe, na altura da cidade de Hunt, registrou uma elevação de 6,7 metros em cerca de duas horas, e começou a falhar ao atingir 9 metros, segundo o meteorologista Bob Fogarty.
O presidente Donald Trump lamentou as inundações. Neste sábado (5), ele publicou em seu perfil na rede Truth Social que o governo federal está colaborando com as buscas. "Melania e eu estamos rezando por todas as famílias afetadas por esta tragédia", completou.
Vista aérea feita por drone mostra casas alagadas após chuvas torrenciais que provocaram enchentes repentinas ao longo do rio Guadalupe, em San Angelo, Texas, EUA, em 4 de julho de 2025
Reuters
Operação de resgate
Enchente deixa mortos e desaparecidos no Texas, nos EUA
Guardas florestais do Texas informaram, na tarde de sexta-feira, que haviam chegado ao Camp Mystic e começaram a evacuar campistas que estavam em áreas mais elevadas.
A jovem Elinor disse que foi retirada de helicóptero com suas colegas de cabana depois de atravessar a água da enchente. Ela contou que acordou assustada por volta da 1h30 da madrugada de sexta, com trovões e chuva forte batendo nas janelas da cabana.
Elinor estava entre as campistas mais velhas, que ficavam na área elevada conhecida como Senior Hill. As cabanas das meninas mais novas, que podem começar a frequentar o acampamento a partir dos 8 anos, ficam às margens do rio e foram as primeiras a inundar, segundo ela.
As crianças que estavam nas cabanas mais baixas subiram a colina para se abrigar. Pela manhã, estavam sem comida, energia elétrica ou água potável, relatou a jovem. Quando os socorristas chegaram, amarraram uma corda para as meninas atravessarem uma ponte com a água batendo nas pernas.
A mãe de Elinor, Elizabeth Lester, contou que seu outro filho também estava em um acampamento nas proximidades, o Camp La Junta, e conseguiu escapar. O Camp La Junta e outro acampamento na região, o Camp Waldemar, informaram no Instagram que todos os campistas e funcionários estavam em segurança.
Elizabeth chorou ao reencontrar a filha. Ela contou que a filha de uma amiga, que era monitora das crianças mais novas no Camp Mystic, está entre as desaparecidas. “Meus filhos estão seguros, mas saber que outras pessoas ainda estão desaparecidas está me destruindo por dentro”, disse.
Na escola primária de Ingram, que foi transformada em centro de encontro, famílias se aglomeraram na tentativa de reencontrar seus filhos. Uma menina com uma camiseta do Camp Mystic foi vista pela reportagem da agência Associated Press parada em uma poça d’água chorando nos braços da mãe.
Dezenas de famílias compartilharam em grupos locais no Facebook que receberam telefonemas de autoridades informando que suas filhas ainda não tinham sido localizadas.
Famílias se reencontram em uma escola convertida em ponto de reunificação em Ingram, no Texas, após enchentes
Eric Gay/AP
Chloe Crane, professora e ex-monitora do acampamento, disse estar devastada. "O Mystic é um lugar muito especial, e não consigo imaginar o terror que seria passar por isso como monitora, responsável por 15 meninas pequenas."
De acordo com Chloe, o acampamento, fundado em 1926, é um refúgio para meninas que querem desenvolver autoconfiança e independência. A cheia agora transformou o refúgio centenário em um cenário de destruição.
O acampamento fica em uma área conhecida como "corredor de enchentes", explicou Austin Dickson, diretor da Community Foundation of the Texas Hill Country, uma fundação filantrópica que arrecada doações para ajudar entidades que atuam na resposta ao desastre. "Quando chove, a água não penetra no solo", disse Dickson. “Ela desce morro abaixo.”
'Até que todos apareçam'
Helicóptero sobrevoa o Rio Guadalupe, no Texas, após enchentes
Eric Gay/AP
O governador do Texas, Greg Abbott, divulgou um vídeo na rede X no qual uma vítima é resgatada do topo de uma árvore por um socorrista suspenso de um helicóptero, enquanto as águas rugiam abaixo.
"Missões de resgate aéreo como essa estão sendo realizadas 24 horas por dia. Não vamos parar até que todos apareçam", afirmou.
"Temos inundações constantemente. Este é o vale fluvial mais perigoso dos Estados Unidos", declarou o juiz do condado de Kerr, Rob Kelly. Mas, segundo ele, "não havia indícios de que seria algo como o que aconteceu."
Em meados de junho, ao menos dez pessoas morreram em inundações causadas por chuvas intensas na cidade de San Antonio, a cerca de 150 km ao sul do condado de Kerr.
Em 1987, uma enchente do Rio Guadalupe já havia causado outra tragédia na região: um ônibus com adolescentes de um acampamento cristão foi arrastado pela correnteza durante uma tempestade. Dez campistas do Pot O’ Gold morreram afogados após o veículo não conseguir deixar a área a tempo, nos arredores da cidade de Comfort, a cerca de 50 km de Hunt.
*Com informações da Associated Press e da Reuters
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